ilustração: márcio bulk | fotos de arícia mess: daryan dornelles |
Sendo figura ativa neste momento de transição da indústria cultural, Arícia nos recebeu para uma entrevista no estúdio de seu produtor, Carlos Trilha, no bairro do Humaitá (RJ). A cantora nos falou a respeito de sua carreira, o mercado fonográfico e o contato que vem travando com os novos nomes da MPB.
BD – Apesar de ter ganhado destaque a partir dos anos 90, você acabou se tornando bem próxima à nova geração. O próprio Leo Cavalcanti chegou a participar de seu último álbum...
ARÍCIA MESS – Eu conheci o Leo por causa de seu pai, o Péricles [Cavalcanti]. O Lenine havia dado a ele o meu primeiro disco. Ele curtiu e começamos a nos falar. Como já estava morando em São Paulo, nos aproximamos. Fui à sua casa e conheci a Lídia [Chaib], o Leo e a Nina [esposa e filhos de Péricles, respectivamente]. A amizade foi surgindo. Nessa época, o Leo ainda acompanhava o pai em suas apresentações. Quando ele começou sua carreira solo, criou um perfil no Myspace e pediu para que eu e o Yuri [Pinheiro, músico e fotógrafo] o ajudássemos a inserir suas músicas no site. Nós as ouvimos em primeira mão e amamos. Era muito bom! Um som diferente, bacana. A demo já era ótima!
BD – Você também se aproximou do Qinho, não?
ARÍCIA – Sim, eu vi sua apresentação em São Paulo. Achei lindo. O menino canta e toca superbem. O que mais me encantou foi vê-lo interpretar “Fazenda” [Nélson Ângelo], do repertório do Milton Nascimento. Uma música dificílima! E ele cantou com voz e violão de uma forma tão livre, tão nova! Levou a canção para um lugar bem diferente... Foi muito legal. E apesar dele e do Leo serem da mesma geração, seus trabalhos são totalmente diferentes. O Qinho é mais voltado para a MPB, mas sinto que, mesmo assim, traz uma renovação. Gosto muito deles. Na verdade, estou sempre interessada no que é novo, no que é bacana. Fico muito ligada, gosto de ouvir os meninos, de estar perto deles. É muito bom poder assistir ao nascimento de artistas tão incríveis. Ainda mais em um momento de mudanças como este. Quando comecei ainda havia as grandes gravadoras controlando os meios de produção e de divulgação. Ficávamos muito a sua mercê. Eram elas que diziam o que era bom e o que não era. E, claro, apenas os seus artistas eram considerados bons. Só que aí veio a maldição da internet! [risos]. Eu me lembro que pra gravar um CD... Ninguém gravava CD em casa! Meu primeiro álbum eu gravei aqui. Havia um monte de teclados do Trilha. Começamos a gravar em 97, mas só lançamos em 2000. Era difícil botar um trabalho independente na roda. Dependíamos de uma imprensa que estava muito associada ao que as gravadoras diziam ou pagavam. Ficávamos atados. A internet ainda não era como hoje. Atualmente fico direto online, vejo e escuto tudo por ali. A imprensa tradicional finalmente começou a perceber que existem outros meios de informação e que as coisas vão mudando independente de sua vontade. Mas ainda acho que está difícil, nós ainda vivemos um momento de transição. As novas estruturas não foram totalmente estabelecidas.
BD – Ao que parece, você se sente bem confortável e até mesmo pertencente a esta nova cena musical.
ARÍCIA – Eu estou aqui, não é? Eu sou presente, totalmente contemporânea. É interessante, porque de uns tempos pra cá, começaram a me inserir nesta nova cena. Os meninos acham que eu tenho a idade deles. Mas não tenho! [gargalhadas]. É superlegal estar inserida neste contexto, saber que o meu trabalho tem uma linguagem contemporânea, não envelheceu e é capaz de acompanhar as mudanças do tempo.
BD – A idade também traz algumas angústias profissionais, não? Como a ansiedade em fazer as coisas...
ARÍCIA – Na verdade, sinto que não tenho mais tempo a perder. Não tenho! Tem certas situações pelas quais já passei que não preciso mais repetir. Já sei como é, já vivi. Tenho mais segurança e sei da qualidade do meu trabalho. E isso é uma coisa que só o tempo traz. É o dia a dia que te dá o chão, a firmeza. Mesmo com todas as dificuldades, todas as batalhas. Porque é trabalho duro, sabe? Eu trabalho muito. Não tenho hora. Preciso divulgar a minha música para o maior número de pessoas. Porque eu quero que elas conheçam o que fiz. Não adianta nada lançar um álbum e ninguém ouvir, ninguém ir ao show. Porque o artista a gente conhece no palco. Para mim é assim. Fui ao show do Qinho e, quando o vi, pensei: “Porra! Como ele é bom!". Com a Marcia Castro foi a mesma coisa. Eu gosto de ver, dou valor à presença, ao desempenho do artista.
BD – Mas hoje em dia, o consumo de música se tornou extremamente fast-food: a pessoa baixa, ouve e descarta. Será que existe uma relação tão estreita assim entre a música disponibilizada na internet e o público dos shows? Você pode muito bem consumir sem necessariamente se interessar pelo artista...
ARÍCIA – É, são duas coisas diferentes, mas complementares. Eu gosto de ver. Quero assistir, ver como é que aquilo tudo irá funcionar no palco. Às vezes, ao vivo, o som pode ser muito melhor. Há o calor da performance. É aí que o bicho pega. Às vezes até o disco é ruim, mal gravado, e no palco o artista supera aquilo. Porque com essa história de música independente, o pessoal anda fazendo uns discos bem mal gravados! [risos]. Você escuta a primeira faixa e não tem nem vontade de continuar. Então é preciso ir ao show, porque no disco não está rolando... Vi o documentário “Daquele Instante em Diante” [Rogério Velloso, 2011]... nele, a Tata [Fernandes] comenta que os discos do Itamar [Assumpção] eram mal gravados. Eu mesma ouvia e ficava assim... Mas gostava das suas composições, gostava de ouvir aquilo... era diferente. Aí fui a um de seus show! Uma maluquice, um acontecimento! Fiquei passada. Era um negócio doido! Forte, ousado. Eu me lembro da Denise Assunção [atriz e cantora, irmã de Itamar] tendo um treco na beira do palco! Eu ficava olhando e pensando: ”Que mulher é essa?!”... Mas o disco não era bem feito. Era a tal da independência. E ainda hoje percebo muitos problemas técnicos dentro dessa cena.
BD – Alguns artistas dizem que a má gravação é intencional...
ARÍCIA – Depende muito. Por exemplo: algumas vozes em meu disco foram gravadas em casa. Poderiam ter ficado ruins, mas não ficaram. Você não vai conseguir identificar quais são. A voz da Paula Preta no “Bate Folha, Jurema”, é da hora em que ela compôs aquele rap. Eu a botei sentada, segurei o microfone, coloquei a base e ela pumba! Mandou aquilo! Peguei a gravação, editei e coloquei no disco. A gente tratou, colocou uns filtros e tal... Então depende, não é? Dá para você fazer e ficar legal. Não precisa ficar ruim. A voz da Natália Barros falando “acredito em vida antes da morte”, foi gravada lá em casa. Logo de primeira. Fui, peguei aquilo e pronto! Tá ali. As minhas vozes em “Bate Folha...” são todas de primeiro take. Gravei na casa do Yuri, em frente à Avenida São João. As percussões também. Um barulho danado! [risos]. Mas, se ficaram boas, vou regravar por quê?! Deixei como estava. Tem o frescor do momento. Funciono muito no primeiro take. Gosto disso. No Cabeça Coração tem uma música,“Parar o Mar”, que a voz foi gravada na sala, quando a compus.
BD – Ultimamente, muitos artistas cariocas têm ido morar em São Paulo. Como foi para você? A cidade realmente oferece mais condições que o Rio de Janeiro?
ARÍCIA – Eu fui já faz um tempão. A ida, para mim, foi natural. Não racionalizei muito. Comecei a ir para lá no final de 2001. Participei de dois programas: o “Musikaos”, da TV Cultura, filmado no Sesc Pompeia, e o “Vozes do Brasil”, da Patricia Palumbo. Estava lançando o primeiro disco e achei superbacana. Voltei para o Rio e em janeiro de 2002 me apresentei por lá. Foi bem legal. Um público quente, sabe? Comecei a fazer mais shows em São Paulo, porque aqui o circuito já estava meio difícil. E, além disso, estava de mudança e não conseguia achar nenhuma casa interessante. São Paulo acabou se tornando a opção mais fácil. E aí peguei as coisas e me mudei. Não tinha nada aqui me segurando. Foi muito natural, fiquei uns seis meses nessa paquera. Mas também não foi assim tão fácil chegar numa cidade como São Paulo sem ser uma artista muito conhecida. Ainda mais em um período em que a internet não era uma grande ferramenta de divulgação... Mas, de uns tempos pra cá, as coisas realmente começaram a acontecer na cidade. Tem muita gente fazendo trabalhos incríveis. Os meninos começaram a produzir, a fazer shows... As pessoas se reúnem mesmo. Essa rapaziada toda se encontra: Tulipa [Ruiz], Leo, [Thiago] Pethit... E cada um criou o seu caminho. Eles puderam experimentar com alguma estrutura, já com um cachezinho. O Studio SP, por exemplo, mal ou bem paga uma graninha para você chegar lá e fazer um som. O “Prata da Casa”, que é um projeto do Sesc Pompeia, é superlegal para quem ainda está no início de carreira. Tem um puta palco, superbem equipado, e um bom cachê... Então, de alguma maneira, houve certa facilidade para que as pessoas saíssem produzindo e tudo mais. As redes sociais ajudaram muito na hora da divulgação, inclusive para que eles pudessem ser ouvidos pelos cariocas. Em São Paulo você encontra condições para fazer um bom trabalho. Aqui ainda acho complicado, mas acredito que a tendência é melhorar. Mas também depende muito da articulação dos artistas da cidade. Lá, inegavelmente, há um mercado maior. Mas não é tão moleza assim. Porque São Paulo é uma cidade dura, você tem que estar concentrado, trabalhando, porque senão você dança. Não tem o mar para você dar um rolê e se desestressar. Na verdade, acho que as duas cidades se complementam. E quanto mais trocas houver, melhor. Todo mundo ganha.
BD – Em algum momento você teve medo ou passou por alguma crise por conta das mudanças do mercado fonográfico?
ARÍCIA – Não. Eu vou indo. Como “eu acredito é na rapaziada”, vou indo e sacando o que está acontecendo. Já queria trabalhar a algum tempo com programas de música. Quando fiz meu primeiro disco, saquei que poderia lidar com aquilo, mexer naqueles programas e, com isso, ter mais autonomia. Então, quando comecei a produzir o segundo, já cheguei pra banda com o esboço do que queria. Vinha aqui, trabalhava, levava o material pra casa e, no dia seguinte, já trazia um pouco mais adiantado. Com os programas, tive a possibilidade de fazer uma boa pré-produção, o que me permitiu direcionar o disco para onde realmente me interessava.
BD – O que era impossível de se fazer nas décadas passadas.
ARÍCIA – Sim. E junto com o avanço tecnológico, surgiu todo esse mundo virtual e de redes sociais que permitiram a difusão do trabalho. Foi tudo meio junto.
BD – Mesmo que você tenha optado por uma carreira independente, imagino que presenciar o colapso do mercado fonográfico não deve ter sido algo muito fácil...
ARÍCIA – No começo dos anos 90, fui assediada por algumas gravadoras, de forma sutil. Mas acho bastante desagradável quando alguém te propõem: “Ah, eu queria que você fosse igual à fulana”. Não, né? Logo no primeiro papo?! Porque há uma proposta no meu trabalho, há um conceito. Não posso ser igual a outra pessoa, senão eu não seria uma artista, ora! Eu, naturalmente, recusei. E isso deve ter soado estranho. Devem ter pensado: “Humpf! Mas essa mulher é difícil”! [gargalhadas]. Sinto muito, mas tenho personalidade, sei como quero as coisas. Claro que, se eu estiver trabalhando em conjunto, vou querer compartilhar e trocar ideias, você vai me influenciar e eu vou te influenciar. Isso sim que é trabalhar. É um bate-bola.
BD – Ao que parece, a crise das gravadoras e a ascensão da música independente acabou favorecendo a produção de trabalhos mais criativos...
ARÍCIA – Claro! A função do mercado é vender a arte e não fazê-la! Quem faz é o artista! As gravadoras começaram a inventar, criar artistas, e os chamavam de produto! Imagina! Mas acredito que agora, finalmente, elas estejam revendo esses padrões.
BD – Sim, mas o diálogo entre os artistas independentes e o mainstream ainda é muito raro.
ARÍCIA – É verdade, com certeza. Não há como saber quem será incorporado aos veículos de massa. Eu toco nas rádios, aqui do Rio e de São Paulo. Elas também estão começando a ficar ligadas no que está acontecendo na internet. Algumas. A MPB FM, a OI FM, a Roquete Pinto... Lá em São Paulo, a Eldorado também tem esta preocupação. As rádios estão se modernizando, porque senão também vão dançar. Perceberam que existe um público ouvindo coisas diferentes, foram lá conferir e agora trazem para um público maior. É muito legal. O problema é que a TV é bem mais fechada, mas acredito que, aos poucos, ela também absorverá essa informação. Ok, é muito pouco provável que venhamos a aparecer em programas muito populares, mas...
BD – Tem o “Som Brasil”, na Globo. Mas o horário de exibição é muito ingrato...
ARÍCIA – Sim. Mas é um programa que todo mundo está fazendo. E é bem interessante...
BD – Em seu último trabalho, Onde Mora o Segredo, já pela capa é possível notar uma grande preocupação com a sua imagem... Por quê?
ARÍCIA – Porque sim, ora! [gargalhadas]. Na verdade eu havia recebido um e-mail com a foto de uma tribo da Etiópia. A imagem era muito impressionante. Porque era ao mesmo tempo super fashion e tribal. Linda! Chamei o Yuri, a [fashion designer] Nilva Campedelli e o [maquiador] Vandi F e fomos para o estúdio. Só que a gente não sabia muito como ia ser. Fomos radicalizando mais e mais até chegarmos a esse resultado, já no fim da sessão. Ficou bem onírico. O álbum já vinha se apresentando para mim com essa temática das mulheres negras e índias, que são as minhas ancestrais, as minhas avós, todas as mulheres da minha família. O disco aborda a questão da autoestima, da valorização dessas mulheres que ainda hoje são oprimidas por uma cultura racista e misógina. Pela própria história das minhas antepassadas, eu sentia que deveria homenageá-las, fazer um agrado. É algo bem subjetivo, mas havia esse desejo.
BD – Este seu CD tem uma influência forte de música negra: jazz, soul, funk, samba... A construção da sua musicalidade passa por estes estilos?
ARÍCIA – Super. Eu adoro a música negra porque ela é ampla. Ela se subdivide em vários estilos e todos me influenciam. Nestes dois últimos anos, ouvi muito afrobeat. Muito! Eu escutei direto, durante todo o processo de produção do disco. A própria faixa-título, “Onde Mora o Segredo”, é afrobeat. Também ouço muito funk, blues, soul, reagge, músicas de terreiro, de macumba... Tudo é muito rico e interligado. Ouvi Michael Jackson e Stevie Wonder a minha vida toda. É o tipo de música que gosto de escutar. Adoro Erykah Badu, que é mais contemporânea. Posso afirmar que faço música negra. Do meu jeito, como eu a entendo, processando todas essas informações.
BD – Por falar nisso, nestes últimos anos ficou bastante complicado classificar um artista por estilo...
ARÍCIA – Estava hoje me inscrevendo em um site de venda de música e aí cheguei aqui [Arícia aponta para o monitor de seu notebook], no estilo. Tem um gênero chamado brazilian pop. Será que é isso que faço?! [risos].
BD – Ou seja, aquilo que não dá pra classificar é pop! [risos]. As classificações parecem não fazer mais sentido, pelo menos aqui no Brasil. Afinal, o que é MPB?
ARÍCIA – E não é? O termo MPB se tornou uma coisa meio careta, meio velha. Parece algo intocável. Mas no “Onde Mora o Segredo” eu canto três clássicos da música popular: “Black is Beatiful” [Marcos e Paulo Sergio Vale], “Clariô” [Péricles Cavalcanti] e “Dengue” [Leci Brandão]! Só que dentro de outro contexto. Realmente, prefiro chamar o que faço de música negra. Ela é ampla e não tenho como escapar! [risos]. Mas acho enriquecedora esta incapacidade de classificação. É um sinal de riqueza do país. Aqui a gente tem uma quantidade enorme de ritmos e estilos. Tenho muita vontade de viajar pelo interior e ouvir a música que vem do povo. O DJ Tudo, o Alfredo Belo, faz isso: viaja, grava horas e mais horas de música popular e produz um trabalho superbacana... Essa história de classificação é complicada. O pessoal fala que o meu disco é de música eletrônica! Mas não tem quase nada de eletrônico. Pode ter um sample ou outro, mas não tem nenhuma programação. Ele é todo tocado. O que tem são essas maluquices do Trilha: Minimoog, clavinet, Rhodes... Tem umas velharias, entendeu? Uns sintetizadores, arpeggiator... e só. Não tem nada de novo. São instrumentos de época. O Trilha é que é meio cientista louco. [risos].
BD – E como vem sendo as suas apresentações aqui no Rio? Os artistas costumam reclamar da ausência de público. Parece que os cariocas perderam o hábito de ir a shows mais alternativos...
ARÍCIA – É verdade. Se bem que não passo muito por isso aqui no Rio. Na verdade, lá no começo dos anos 90, eu não sei por que cargas d’água, os meus shows eram cheios, as pessoas iam. Mas depois, quando finalmente lancei o Cabeça Coração, ficou mais complicado. Não havia mais um circuito, não tinha aonde tocar. Fora o [Centro Cultural] Sérgio Porto, você ia cair no Mistura Fina que era meio esquisito... Você tinha que pagar o calção pra poder se apresentar. Acabava pagando pra trabalhar! O que também não é o que eu quero. Preciso receber. Além disso, ainda há no Rio uma cultura de todo mundo querer ser vip e entrar de graça. Lá em São Paulo é mais equilibrado, as pessoas pagam. Eu mesma pago pra ver muitas coisas. E, geralmente, os ingressos não são uma fortuna. Os Sescs, por exemplo, têm preços bem bacanas. Mas, pelo que vejo ultimamente, os meninos de São Paulo estão vindo para cá e tendo uma receptividade enorme: a Tulipa, o Leo [Cavalcanti]...
BD – Alguns poucos artistas, na verdade. De forma geral, mesmo tendo alguns espetáculos bastante acessíveis, o público carioca parece não se animar...
ARÍCIA – Mas e a divulgação? Saiu no jornal? Porque isso é um grande problema no Rio. Está tudo muito concentrado. É preciso ter mais espaços onde possamos falar sobre o nosso trabalho, mostrar a nossa produção. Blogs como o Banda Desenhada são muito bem vindos, porque ultrapassam as barreiras das mídias tradicionais.
BD – Alguns artistas comentam que os jornais de outras capitais costumam ser mais generosos do que os daqui.
ARÍCIA – Eu saí nos dois principais jornais de BH, com boas matérias. Em Brasília, saiu uma matéria enoooorme no Correio Brasiliense. Uma foto gigantesca! [risos]. Ah, e também tive uma ótima crítica do Lauro Lisboa no Estadão, na época do lançamento do CD.
BD – E as próximas apresentações no Rio? Você já possui alguma data?
ARÍCIA – Vou participar do Festival Faro MPB em 28 de outubro. Mas aqui as coisas são meio complicadas. Não há muitos lugares para tocar e o custo é alto. O Fábio [de Souza, produtor carioca], do Solar de Botafogo, é um querido, mas não tem patrocínio. A casa trabalha com bilheteria. Eu queria muito me apresentar por lá. O som está superbacana, tem um superequipamento, mas não tem grana. Não dá pra vir com a banda, na cara e na coragem, sem transporte, alimentação e hotel. Esse é o grande problema. Estou me organizando com a minha produtora. Participamos de alguns editais e fui selecionada para o Conexão Vivo. Porém, nem todos ganham. Tem um monte de artistas com trabalhos ótimos em busca de incentivo. Realmente não sei como é que vai ser. Mas acho que vai rolar e que vai dar tudo certo. [risos]. Tenho que continuar fazendo. Costumo ter uma visão otimista. Faço o melhor possível, capricho e ponho fé que no final vai ficar tudo bem. É o caminho. Você tem funções, tem um trabalho no mundo para fazer, não é? Acredito realmente que o meu seja este, fazer música, falar das minhas coisas, trazer alegria para as pessoas... Apaziguar os deuses da música. Sinto desta maneira. É uma doação. Você está ali servindo. Procuro manter sempre esta ideia em mente.