outras conversas

da esquerda para direita: duani, pablo francischelli, caio jobim, tulipa ruiz e gustavo chagas. foto: aline arruda.

O Banda Desenhada sempre teve como principal objetivo retratar o cenário musical brasileiro contemporâneo e, para tanto, optou não só por entrevistar músicos e produtores, mas também toda uma gama de profissionais que, de uma maneira ou de outra, estão envolvidos com esta geração. Pelo site já passaram fotógrafos, artistas plásticos, designers, etc. Contudo, ainda estava faltando uma análise da produção audivisual deste momento. Pensando nisto, convidamos os documentaristas Caio Jobim e Pablo Francischelli, da produtora DobleChapa. Pioneiros na documentação da chamada Nova MPB, a dupla foi responsável pelo mais relevante programa a abordar o tema: “Pelas Tabelas”, produzido pela Carioca Filmes e exibido por duas temporadas (2009/2010) no Canal Brasil. A conversa não se limitou apenas ao trabalho dos rapazes e tocou diversas vezes em  pontos delicados do cenário atual da música popular. Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, MTV, mangue beat, a cena carioca e outros tantos assuntos foram discutidos sem meias-palavras nesta que é, com certeza, uma das mais elucidativas entrevistas do site:

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sem nostalgia


romulo fróes um labirinto em cada pé







Dada a sua incapacidade de interação com as novas formas de consumo de música, a indústria fonográfica viu-se frente a uma galopante crise que acabou por promover, mesmo que não intencionalmente, o empobrecimento da música popular brasileira. Até mesmo um expectador menos atento seria capaz de observar o quão vazio se tornou o discurso de todo e qualquer gênero musical que transita pela grande mídia. Axés, sertanejos e rocks tão assépticos que nem de longe lembram as suas generosas raízes: o frevo, o forró, o maracatu, o reggae, a música caipira, o grunge, etc. Entretanto, sem se dar por conta, o país também produziu uma nova geração de músicos que, não mais utilizando as grandes gravadoras como ferramenta para divulgação e consolidação de suas carreiras e imbuídos de um dever quase romântico de expressar seu ideário, lançaram os álbuns mais criativos dos últimos anos no debilitado cenário da música popular. 
Nina Becker, Tulipa Ruiz, Romulo Fróes, Leo Cavalcanti, Curumin e tantos outros vêm conseguindo imprimir uma nova cara à MPB. Por sinal, uma das caras mais arrojadas que esta um dia teve. Sem as cobranças do mercado e das grandes gravadoras, os novos músicos detêm em suas mãos uma liberdade criativa que poucas ou quiçá nenhuma outra geração pôde ter. Curiosamente, mas não por acaso, grande parte destes nomes possuem alguma ligação com a gravadora YB Music. Criada em 1999, inicialmente como uma produtora, a YB Music já apostava em novos nomes, como Andrea Marquee, Mamelo Sound System e Rica Amabis. Responsável também por trilhas para comerciais, curtas e longas metragens, a gravadora criou uma espécie de selo de qualidade que se tornou um enorme atrativo para qualquer músico independente.
Após a última entrevista, com a cantora Nina Becker, o Banda Desenhada optou por se aprofundar nas questões do mercado fonográfico nacional e convidou para a entrevista um dos proprietários da YBMusic, o compositor, produtor musical, multiinstrumentista e ex-integrante da cultuada jazz band Nouvelle Cuisine, Mauricio Tagliari. Também conhecido por sua paixão por vinhos e drinks em geral, Maurício concedeu ao site uma das mais esclarecedoras e sensíveis entrevistas:

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romântica senhora tentação

fotos: daryan dornelles

Deixando de lado a Lapa, com os bambas e os seus sambas geniais, o atual cenário da música independente carioca começou a ganhar forma por volta de 2002, quando, em um total improviso, alguns músicos se uniram para criar uma inusitada big band. As divertidas apresentações e o repertório singular, misturando clássicos da gafieira com rock, jingles, heavy metal, funk e o que por ventura passasse por suas cabeças, tornou a Orquestra Imperial uma das maiores sensações da noite carioca. Já nos primeiros bailes, podia-se ver alguns dos músicos que pouco tempo depois se tornariam referências na música contemporânea brasileira: Rodrigo Amarante, Moreno Veloso, Domenico, Kassin, Thalma de Freitas, Rubinho Jacobina, Pedro Sá e Nina Becker.
Amiga dos meninos da banda e ainda trabalhando com direção de arte e cenografia, Nina entrou para a Orquestra substituindo Thalma de Freitas, que havia deixado seu lugar vago ao viajar para a Espanha. Com o seu retorno, a big band acabaria optando, sabiamente, em deixar as duas crooners dividirem os vocais e os palcos nas apresentações. Ainda envolvida em muitos projetos, incluindo aí a criação de uma grife, Nina lançou em 2007 seu primeiro trabalho solo, o EP Superluxo, e participou do álbum “Carnaval Só No Ano Que Vem”, da Orquestra Imperial. Dois anos depois, seria premiada pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), como melhor cantora. Mesmo com alguns problemas e com a saúde abalada, em 2010 Nina gravou dois álbuns, “Azul” e “Vermelho”, que acabariam figurando entre os melhores discos do ano em diversas revistas, sites e blogs.
Entre um show e outro e após algumas rápidas conversas, Nina Becker aceitou participar do Banda Desenhada. A entrevista, que transcorreu em um inicialmente tranquilo café no bairro do Humaitá (RJ), acabou tendo indevidas participações especiais: talheres, bandejas caindo, chícaras tilintanto e as garçonetes de vozes estridentes que, depois de certo tempo, mais pareciam pastoras de velha guarda. Então, para não encher de onomatopéias o texto, sugerimos que entre no clima, pegue um bom chá de hortelã, erva cidreira ou camomila e curta a entrevista:

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sobre todas as coisas


fotos: daryan dornelles
Cunhado na década de 1960 durante o período dos grandes festivais de música popular, o termo MPB já nasceu vago e pouco esclarecedor. O vocábulo, fruto do cenário pós-Bossa Novista e originalmente de forte teor político, foi se esgarçado ao longo das décadas seguintes, abrigando artistas influenciados pelos mais diversos gêneros: rock, samba, soul, reagge, pop, música latina, baião, forró, etc... Até pouco tempo atrás, mesmo que de forma totalmente arbitrária e com pouquíssima nitidez, ainda era possível utilizar o rótulo MPB para designar certos músicos e seus respectivos trabalhos. Entretanto, com o surgimento e a consolidação de uma nova cena musical - construída a partir da primeira década deste século e em meio à forte crise do mercado fonográfico - o termo MPB, por fim, tornou-se anacrônico. CéU, Rômulo Fróes, Karina Buhr, Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Leo Cavalcanti, Kiko Dinucci e dezenas de outros nomes conseguiram, mesmo que não intencionalmente, decretar o fim do que até então se convencionou chamar de música popular brasileira. Sem saber como designar esta nova safra, estudiosos, críticos, jornalistas, blogueiros e tantos outros, tentam como podem criar um novo rótulo: Neo-MPB, Neotropicalistas, Geração SP, Geração BR-00, Nova MPB, Novos Paulistas, e por aí vai. A tarefa é árdua e, na maioria das vezes, infrutífera, pois qual termo seria capaz de abrigar estes jovens músicos que, se em sua esmagadora maioria sofrem influência do Tropicalismo, também não temem em transitar pelos samba, bossa nova, baião, ciranda, música latina, pop, Jovem Guarda, afrobeat, vanguarda paulista, música indiana, rap, indie rock, música eletrônica, jazz, tecnobrega e sabe lá deus o que mais?!  
E é em meio a este caos que surge “Canções de apartamento”, álbum de estreia do entrevistado desta semana: Cícero. Oriundo de um tênue movimento “indie rock” que surgiu no Rio de Janeiro no início da última década, o músico fez parte da banda Alice, com a qual lançou dois álbuns: “Anteluz”, de 2005, e “Ruído”, de 2007. Trabalhando paralelamente como DJ e produtor das festas Mambembe, Benflogin e Yellow Submarine, Cícero iniciou a sua carreira solo três anos após o término na banda, lançando em junho de 2011 seu primeiro álbum solo. O disco foi gravado em seu próprio quarto e se encontra, por enquanto, disponível apenas virtualmente, podendo ser baixado de forma gratuita em seu site oficial. Entretanto, mesmo com as dificuldades de divulgação próprias de um trabalho independente, “Canções de apartamento” já vem sendo considerado um dos melhores discos do ano. A acolhida foi insuspeitável e Cícero logo se tornou foco de atenção dos sites e blogs de música de todo o país. Com fortes influências de Radiohead, Chico Buarque e Tom Jobim, “Canções de apartamento” foi comparado à exaustão com obras dos “hermanos” Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, influências estas não desmentidas, mas que passam à certa distância do seu trabalho. Somado a isso, o jovem cantor/compositor viu, inesperadamente, seu nome ser incluído no hall do que se convencionou chamar de “Neo-MPB”, dividindo o espaço com Tiê, Nina Becker, Thiago Pethit  e outros tantos. Ainda tentando compreender melhor o momento por que passa a sua carreira, Cícero aceitou o convite do Banda Desenhada e, acompanhado de seu colega acordeonista/pianista Bruno Schulz, concedeu esta entrevista:

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de papel crepom e prata


thalma touro e tigre | foto de yuri pinheiro

O primeiro contato com o trabalho do ilustrador Gabriel Mar foi enigmático: poucos meses atrás, durante a entrevista com a cantora e compositora Iara Rennó, uma imagem colada à parade, bem acima de sua cabeça, me chamava a atenção. Tratava-se de uma espécie de colagem, quase uma mandala, repleta de animais e plantas selvagens que emolduravam um retrato. Multicolorido e de forte referência ssessentista, a figura era magnetizante. Algum tempo se passou e novamente fui ao Miradouro, local de encontro de diversos artistas e morada não só de Iara Rennó, mas também da então entrevistada Thalma de Freitas. Não resisti e a indaguei sobre o autor do trabalho. Por sorte, Thalma me contou que o menino prodígio era mais um habitante da casa e que possuía um portfólio repleto de ilustrações, pôsters e capas de CDs de artistas da nova música brasileira. Por certo, suas colagens caíam como uma luva nas experimentações estéticas desta nova geração, marcada tanto por sua pluralidade quanto por sua inquietude. 
Não pensei duas vezes e logo convidei Gabriel para uma entrevista ao Banda Desenhada. Como de hábito, não faltaram participações especiais: Thalma e Felipe Benoliel, do coletivo carioca Apavoramento Sound System e também morador do Miradouro, fizeram pequenas intervenções na conversa que tive com o designer/ilustrador. Confiram agora o nosso colóquio: 

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