atenção caros artistas, poetas mortos, magos e alquimistas, cineastas, escritores e jornalistas



Não, por favor, não sejamos óbvios, o paulistano Loungetude46 não é mais uma daquelas bandas/projetos que, na virada do século XX para o século XXI, misturavam bossa nova com drum'n'bass. Composto por Adolfo Moreira (baixo elétrico), Bruno Duarte (percussão e vibrafone), Mariana Degani (voz), Paulo Papaleo (bateria), Rafael Montorfano "Chicão" (piano elétrico), Remi Chatain (sax, flauta e violão) e Thiago Bandeira (poesia, letras e perfomances), o Loungetude46 é um coletivo multimidiático que, tendo a música como mola mestra, dialoga efetivamente com a literatura, o cinema e as artes visuais. Sua criação data de 2007, quando parte dos atuais integrantes se conheceu em um bar da Vila Madalena. Deste encontro, surgiu a ideia do coletivo que, após sucessivas apresentações, adotou a música como principal veículo de expressão. Seu primeiro álbum veio então em Janeiro de 2008, seguido da gravação de um DVD.
Às vésperas de lançar o segundo trabalho, “Ação e Reação”, o Loungetude46 optou por envolvê-lo em um belo disco/livro onde as ilustrações de Rafael Gaiani, somadas às fotografias de Paulo Papaleo, dialogam com as letras e poesias de Thiago Bandeira. As canções, por sua vez, são imbuídas de um humor cáustico, retratando o cotidiano multicultural e caótico de uma das maiores metrópoles do planeta: São Paulo. As influências, como as de quase toda a sua geração, são múltiplas: música eletrônica, jazz, salsa, funk, samba e outros tantos estilos que, democraticamente, cada um de seus componentes acrescentou ao caldo sonoro do grupo.
Com um perfil plural como este, era impossível o coletivo passar despercebido pelo Banda Desenha. Após algumas trocas de e-mails com a produtora Manoela Wright, conseguimos entrevistá-lo e, como bônus, tivemos acesso a algumas das bem-humoradas ilustrações do álbum:

BD - Inicialmente, o Loungetude46 começou como um coletivo de arte. Aos poucos, o projeto se direcionou mais efetivamente para a música. Como foi este processo?
Bandeira - Sempre tivemos o desejo pela mistura de linguagens, no entanto nosso trabalho tem a música como essência. Diferentes parceiros já passaram pelo grupo, inserindo outras formas de arte, e queremos continuar fazendo experimentações.Além disso, todos os integrantes do grupo trabalham com outros segmentos artísticos além de integrarem o Loungetude46. Por isso, para esse novo trabalho, resolvemos prezar essa essência e fazer da música nosso carro-chefe. Mas isso não significa que deixamos de mesclar em nosso trabalho outras vertentes artísticas como a fotografia e a ilustração que compõe esse universo. Além disso, nosso show é bastante visual.

BD - O coletivo, em seu segundo disco “Ação e Reação”, parece sofrer muita influência do Grupo Rumo e do Língua de Trapo, expoentes da Vanguarda Paulista. Há realmente estas referências?
Mari Degani e Remi Chatain - Mais do que a influência desses grupos, tanto quanto eles, temos a essência paulistana. Apesar de gostarmos bastante desta corrente musical paulistana dos anos 80, e inclusive já termos sido também citados ao lado da Gang 90 e do Premeditando o Breque, nossas referências são bastante variadas e mundanas. 
Papaleo - Engraçado, pois é a primeira vez que nos associam à esses dois grupos e realmente temos características que podem nos remeter a eles, assim como já nos compararam anteriormente com Arrigo Barnabé e Premeditando o Breque. Mas apesar dessas associações, nossas influências surgem de outras fontes, somos um grupo muito híbrido, nenhum de nós escuta um som próximo do que fazemos.  Estamos constantemente trocando referências das mais variadas origens, desde música africana até o samba mais raiz. Talvez essa seja a fórmula de estarmos sempre nos surpreendendo com nosso próprio trabalho a cada música que concluímos. Nunca sabemos o que está por vir. Com certeza a cidade de São Paulo deixa uma marca no trabalho dos artistas que por aqui passam, por mais multi-facetados que sejam os paulistanos, temos algum código que de uma forma ou outra nos faz reconhecer. 

BD - Duas das principais características da atual safra da “MPB” são o fortíssimo elo com a cidade de São Paulo e a variedade de influências. Poderiam comentar um pouco a respeito desta cena em que, inegavelmente, vocês estão inseridos?
Mari Degani e  Remi Chatain - É muito legal fazer parte deste momento tão vivo na cena musical paulistana. São muitas referências, a cidade, seus habitantes tão múltiplos, um tempo que corre, voa. E misturamos a São Paulo que habita dentro de cada um de nós. Praticamente nos conhecemos para começar esse projeto, e o fato de que não éramos um grupo de amigos que formou uma banda também é responsável por essa diversidade. Fazemos parte de uma geração a qual o rótulo "MPB" não é uma definição precisa. Essa efervescência ao redor é preciosa, e nos permite a troca com parceiros, como a Trupe Chá de Boldo, o Tatá Aeroplano e seu Cérebro Eletrônico, Zinho Trindade e tantos outros que fazem parte deste momento.
Papaleo - Assim como muitos artistas da nossa cena, nossa proposta é mostrar que já passamos da época dos estereotipos, apostamos constantemente na diversidade, os segmentos estão cada vez mais misturados. Somos da geração informacional, queremos aprender trabalhando com nossa própria música, sem isso, não tem graça pra gente. São Paulo está em um momento cultural bastante fértil, são muitos grupos e músicos individuais que vamos descobrindo diariamente com trabalhos de alto nível. E apesar de ser uma grande cidade, o investimento social na arte ainda é pequeno por aqui.Mas somos otimistas com relação à toda cena que estamos entrando, as pessoas estão buscando coisas novas para consumir culturalmente!




BD - Porque lançar um disco/livro? Qual a relevância das Artes Visuais para o grupo?
Mari Degani e Remi Chatain -  Desde o início do projeto, além da música, nos expressamos através das Artes Visuais. O grupo é composto por multi artistas, então é natural que artes, design, moda e poesia se fundam. O L46 também conta com parceiros e colaboradores em inserções pontuais. O livro foi uma forma de ir além da música, que é muito visual. Junto a isso ainda existe o questionamento quanto ao "produto música" e seus formatos. O livro, no momento, representa melhor nosso trabalho.
Papaleo - Sempre tivemos bastante cuidado com nossa apresentação visual, desde o início. Todos os shows fazemos flyers e já tivemos inúmeros figurinos em nossas apresentações.Eu enquanto designer gráfico pego para fazer a parte de comunicação visual gráfica e digital do grupo, todo o nosso trabalho é desenvolvido por nós mesmos, desde as artes do nosso livro e o nosso site. A parte de figurino, a Mariana sempre organizou, temos uma paleta de cores que sempre seguimos nas roupas dos integrantes. Temos grande anseio de unir cada vez mais as artes visuais ao grupo, já tivemos experiências com projeções de Video-arte, cenografia com luzes e performance nos nossos shows. A integração da música com a imagem é o que faz com que o público veja o nosso trabalho de maneira mais interativa, e com esses outros recursos a gente consegue passar de modo mais objetivo a nossa mensagem.

BD - Em junho, ainda no início do processo de divulgação de seu segundo trabalho, o Loungetude46 fará uma longa turnê pela Europa. Como aconteceu este convite? Quais são as suas expectativas?
Loungetude46 - O Convite surgiu quando enviamos o nosso novo trabalho para o festival Faite de l’image em Toulouse, é um festival que integra artes visuais e música e em dezembro do ano passado fomos convidados para abrir esse festival. Desde então começamos a divulgar nosso trabalho por lá e entre uma conversa de skype e outra nossa produtora Manoela Wright em parceria com Romain Quartier e Dominique Chatain, dois músicos que participaram da gravação do nosso CD, foram fechando os shows. E não ficaremos só na França também temos um show em Londres. Estamos com uma boa expectativa em relação à turnê pela Europa, será nossa primeira experiência fora do Brasil e promete abrir muitas portas.
Remi - E Esse ano além da turnê em junho e julho pela Europa, uma turnê de lançamento do CD-Livro "Ação e Reação" por todo o Brasil, o lançamento do clipe de "Brasileira" e muitas outras coisas boas, além de algumas surpresas. E no dia 08/06 faremos o show de despedida “Bye Bye Brasil” no cedo e Sentado do Studio SP à partir das 22h00, a entrada é franca.

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  1. Fui ouvir o disco. Muito bom. Uma sonoridade gostosa. A voz da Mariana tem uma medida certa das grandes cantoras que o Brasil sempre produz.Que o Brasil saiba reconhecer esta luz pois vão iluminar, com certeza, além mar.

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